sábado, 4 de maio de 2013

O KI-RAP


ENERGIA INTERNA: KI-RAB
O primitivo possui uma força pura tanto maior quanto mais primitivo, portanto mais próximo do animal. Mas se ele pode sobrepujar-se em alguns aspectos, estes são sempre limitados às necessidades da organização, à luta pela vida. E é exatamente isto que o torna primitivo, a ação apenas por instinto, que está geralmente na razão inversa da inteligência.
A própria marcha da civilização e da evolução humana é fator da predominância da inteligência sobre o instinto, pois este permanece estacionário, enquanto que a inteligência progride.
Assim o desenvolvimento da força primordial, pode ser obtido de duas maneiras: a primeira através do cultivo exclusivo do instinto, pela repetição de um treinamento que se desinteressasse da faculdade de escolha, levando a uma espécie de adestramento, que poderia resultar num ser dotado da força terrível de um gorila, como de seu valor intelectual e social. E a segunda, através da inteligência sempre mais viva, portanto mais cultivada, onde o pensamento poderá nascer com mais precisão, clareza e rapidez, e o ato verá confundir-se pensamento com realização, que apoiado, assim na consciência, esta energia latente poderá brotar para o progresso humano.
O Ki-rab que literalmente significa a união dos “espíritos” ( KI = espírito; RAB = unir), sempre fez parte das artes marciais de que constituía a essência e o aspecto esotérico. Entretanto, desde tempos imemoriais, milhares de anos antes da nossa era, já era conhecido. O que na Coréia chama-se de Ki-rab, é essa força primordial acima citada, que os hindus chamam de prana ou energia vital cósmica; indicado por um fenômeno produzido por um estado de união dos “espíritos”, união essa que permite o jorro da força latente que anima todo ser vivo.
É, em outros termos, a fonte da energia, a energia de base que, para jorrar, deve ser despojada de todo obstáculo. Um pensamento indeciso, que pesaria os prós e os contras antes de se afirmar, geraria na mesma proporção a espontaneidade, e enfraqueceria a força do Ki-rab.
Se, ao contrário, os “espíritos” estão unidos (percepção; decisão; ação; vontade), confundidos, nada mais se interpõe, e a força difunde-se, com toda sua potência, em sua pureza original.
Assim, pode-se dizer: “ ter ki-rab ”, no sentido de ser sustentado em toda ação por essa espécie de influxo natural, cuja presença ou ausência mais ou menos evidente comunica às manifestações da vida, valor ou mediocridade.
Essa qualidade de espírito e de ação se pode encontrar em toda a parte, desde “os jogos de xadrez até a política”, passando pelo amor, batalha ou esportes.
Pode-se também “ emitir Ki-rab ”, isto é, materializar sob a forma de um grito repentino, esta força latente.
O Ki-rab é dotado de uma “espécie de magnetismo” proporcional à sua intensidade, “agindo sobre a natureza secreta dos seres muito mais eficazmente do que sobre os órgãos visíveis”, devemos considerá-lo como a materialização da força original.
Porém não é fácil emitir um Ki-rab, é necessário um esforço de consciência para libertar esta energia, e é no esforço que está o segredo. O Ki-rab deve antes de tudo ser um ato livre, para que o impulso espontâneo, que é mobilidade, liberdade, invenção, possa brotar do fundo do coração de cada um onde ele vive oculto, mais ou menos dissimulado sob o peso dos pensamentos. Nasce constantemente no seio das coisas e dos seres, nesse “fundo íntimo” de nós mesmos onde perdemos o hábito de mergulhar. 

“Essa consciência que é uma exigência de criação, não se manifesta a si mesma senão aí onde a criação é possível. Ela adormece quando a vida está condenada ao automatismo; acorda logo que renasce a possibilidade de escolha.” ( Bergson )
Para se emitir um Ki-rab, deve-se contrair os músculos abdominais e liberar o grito; forte e determinado, impregnado de vontade, que deve vir de dentro de você, nascendo no ponto onde se concentra sua energia o “dan-djon”, parte do abdomen situada a cerca de 4cm abaixo do umbigo(centro de gravidade do corpo humano). Nunca um simples grito de garganta.
Seu som não é modulado, cuja intensidade aumentaria progressiva-mente, atinge, ao contrário, repentinamente seu máximo de intensidade, e deve ser muito concentrado e breve.

Texto sugerido pelo atleta Jorge Francisco, 2° GUB.